Dica de Leitura: Livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo

O livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo, do autor Ailton Krenak, recém eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), tem a capacidade de ampliar o raio de ação da nossa empatia para diversos assuntos que rondam a sobrevivência dos seres humanos neste planeta.

 

Aborda uma reflexão sobre o conceito de humanidade e temas desagradáveis que perseveram em nossas existências, tais como, o genocídio e o etnocídio de algumas populações.

 

A contrariedade do livro reside no fato de que, ao mesmo tempo em que o autor cita e acredita em “pestes ambulantes, umas guerras bacteriológicas em movimento” referindo-se às transmissões virais, bacterianas e fúngicas entre os indíviduos, o mesmo emite opiniões duras e ácidas contra os laboratórios farmacêuticos.

 

Porém, nós cirurgiões, sabemos o quanto necessitamos da indústria farmacêutica para poder honrar nossos procedimentos cirúrgicos com sucesso. Prevenir, controlar e estabilizar processos infecciosos só é possível hoje em dia mediante os antibióticos de última geração. Temos na bactéria “staphylococcus aureus” um oponente respeitável e sabemos que sua afinidade pelos canalículos dos osteócitos (células que compõem o tecido ósseo, o campo de atuação da especialidade da Odontologia Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, ainda é o que há de mais desafiador no combate e erradicação das infecções provocadas por estas bactérias, portanto, precisamos sem sombra de dúvida da indústria farmacêutica caso nossa opção seja pela manutenção da vida dos seres humanos infectados pela mesma.

 

De forma similar, manter os níveis de dor em um pós operatório nos níveis mais baixos da escala analógica de dor (EAD) só é possível através de medicamentos com alta eficiência e eficácia no combate à dor desenvolvidos pela indústria farmacêutica após inúmeros estudos e pesquisas científicas. Analisar a intenção da indústria farmacêutica integralmente de uma forma maldosa e com viéis de ruindade é uma alegação muito radical e, de certa forma, falta de humildade e gratidão ao tanto de medicamentos desenvolvidos pela mesma que, sim, salvam vidas e permitem o sucesso final de muitos procedimentos cirúrgicos realizados ao redor do planeta.

 

Também, há uma parte desconfortável no livro na qual o autor julga o consumidor / cliente também de uma forma muito ácida, como se fossem todos seres humanos sem senso crítico algum. Esta crítica negativa à relação prestador de serviço, vendedor de bens de consumo X cliente soa destoante no sentido de que este é o único meio de sobrevivência de muitos seres humanos no mundo atualmente e, quando de forma honesta, não se trata de uma relação bestial e ignorante.

 

No mais, a abordagem de assuntos como o poder e a importância da natureza sobre a vida dos seres humanos, o poder de degradação da mesma e de seus recursos por seres humanos com interesses exclusivistas e a importância de preservarmos o prazer de sonhar, de viver, de dançar, de permitirmo-nos sermos frugais às vezes é bastante interessante e inspiradora.

 

Para finalizar, o livro desperta o leitor para a ótica da vivência e sobrevivência de diversas populações que coabitam o planeta, cada uma com suas diversas particularidades e peculiaridades, muitas delas, insistentemente tentando ser exterminadas ou removidas dos seus habitats por interesses macroeconômicos , sem nenhum planejamento e preocupação com o seu futuro, necessitando urgentemente da atenção e respeito de outros seres humanos para que possam manter-se presentes e culturalmente e fisicamente VIVAS no planeta Terra.

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