Dica de Leitura: Livro Cartas a um Jovem Cirurgião
Todos os livros escritos pelo cirurgião plástico Dr. Ivo Pitanguy têm uma escrita muito doce, delicada, educada e leve. Em todos eles, o autor enfatiza que não devemos perder a alegria de viver, apesar de qualquer acontecimento que ocorra em nossas vidas pessoais ou em nossas profissões que possam querer endurecer nossos corações, ele está sempre reforçando a importância de mantermo-nos alegres, motivados e com uma visão doce e humana para com a vida.
O interessante deste livro “Cartas a um Jovem Cirurgião” é que, se você o ler muito jovem, no início da sua carreira, você acreditará que nunca passará pelos relatos dele, tendo em vista que se tratam dos relatos de um renomado cirurgião, uma sumidade da cirurgia plástica. Porém, a medida que a sua carreira irá acontecendo, você entende que os acontecimentos se dão porque ele era um cirurgião e são ocorrências da vida profissional de um cirurgião, independentemente do cirurgião ter se tornado uma sumidade, como é o caso dele, ou somente estar na vida ativa da profissão, exercendo a mesma com bastante conhecimento, dedicação, integridade, honestidade e ética.
Chama a atenção, também, como ele enfatiza a importância de analisarmos o lado psiquiátrico dos pacientes. Há o relato no livro de uma paciente que já havia se submetido a mesma cirurgia diversas vezes realizada por diversos profissionais ao redor do mundo, pois, era filha de uma pessoa com bastante condição financeira. A família o procurou como um “salvador da pátria” para a situação, porém, o procedimento cirúrgico também não foi um sucesso mesmo sendo executado por ele. Não há relatos dos termos legais do caso clínico em questão, mas, câmeras de segurança foram instaladas no quarto em que a garota estava hospitalizada na sua clínica que comprovaram à família a questão psiquiátrica da paciente e a ausência de culpa do insucesso do procedimento cirúrgico por parte de todos os cirurgiões envolvidos.
Outro relato que chama bastante a atenção é de uma trapaça financeira que ocorreu dentro da sua própria clínica. Infelizmente, a prestação de serviço ocorre entre e para seres humanos e tudo o que está envolvido em transações comerciais e financeiras são suscetíveis de que ocorram também em uma prestação de serviço.
Para finalizar, ele bate na tecla de que não acredita na cirurgia plástica somente com finalidade estética. Ele acredita que toda cirurgia plástica com vistas à estética deve ter o seu embasamento na questão reparadora (funcional). A correção da função que gerará o benefício estético por consequência.
Este raciocínio também é totalmente válido para a especialidade da Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, até mesmo quando falamos da cirurgia de instalação das próteses mandibulares, as próteses de Porex (polipropileno) ou as customizadas (polietileno), o resultado estético é gratificante e mais natural quando a indicação funcional está presente na indicação do procedimento cirúrgico. Isto vale para todos os procedimentos da nossa especialidade. Na presença do diagnóstico da ausência de função para determinada deformidade, doença ou patologia, o cirurgião terá sempre um embasamento para elaborar o planejamento cirúrgico com fundamentação e, desta forma, trilhar um caminho para o tratamento indicado com segurança e previsibilidade em relação ao resultado esperado, mesmo cientes (cirurgião e paciente) de todas as intercorrências possíveis quando trata-se de um procedimento cirúrgico, ou seja, quando trata-se de UMA CIRURGIA, e de todas as complexidades relacionadas a este ato humano capaz tanto de promover, prevenir e recuperar a saúde.